Às vezes me pergunto o que nos une. Vamos imaginar que hoje, exatamente agora, você que lê este artigo (há alguém… ?) resolvesse criar um grupo para fazer “qualquer coisa”. Um grupo de homens para jogar bola. Um grupo de mulheres para jogar vôlei. Um grupo de pessoas para contar piadas. Qualquer coisa!
Agora, imagine que este grupo, formado em 2008, continuasse ativo, atraindo mais participantes e com o mesmo espírito do início, em 2020! Se hoje você tem, digamos, 38 anos, você estaria contando piadas (ou jogando vôlei, ou jogando bola) com o seu grupo, aos 50 anos ou mais!
Difícil? Improvável? Talvez ambos. Mas, acima de tudo, possível. Pois desde 1997 estamos correndo de Kart. Alguns desde 98, 99, 2000….não importa. O grupo, em toda a sua essência e plenitude, existe desde 1997. E muitas vezes me pergunto qual a receita dessa longevidade!
Partindo do óbvio, um grupo é formado por seus integrantes. Eles (e mais nada nem ninguém) é que fazem a diferença. Além disso, valores, princípios, características, enfim, o que forma o “DNA” de um grupo é definido pela sua filosofia, desde que colocada em prática. Nestes anos todos, alguns saíram do grupo simplesmente porque não se identificaram com esse DNA. Por um motivo ou outro, desligaram-se.
Mas, qual seria esse DNA? Qual é a “essência” que alguns não percebiam, e outros simplesmente não compartilhavam? Talvez seja difícil definir. Mas ao elencar, mesmo que mentalmente, alguns fatores, cheguei a uma conclusão (dentre as muitas às quais poderia ter chegado, dependendo única e exclusivamente do aspecto que eu eventualmente escolhesse para focar).
Uma das conclusões sobre qual é essa essência pode ser definida pela palavra “equilíbrio”. Sim, esse grupo, seus participantes, são dotados de um enorme senso de equilíbrio. E um equilíbrio exercitado, às vezes, em relação a aspectos absolutamente conflitantes, antagônicos até.
Pois vejamos, temos que optar entre a competição acirrada e a amizade carinhosa. Certamente temos ambos. Mas sabemos, na maioria das vezes, o momento exato em que a competição é a prioridade, e também sabemos que a amizade deve prevalecer, de um jeito ou de outro. Não é fácil, mas tem sido possível.
Também encontramos o equilíbrio entre a família e o grupo. O grupo é masculino. Formado por homens que gostam de correr de kart, e que compartilham também de alguns interesses comuns. Mas também valorizamos as famílias. Nesses anos todos, sabemos os momentos em que devemos dedicar à família, e os momentos em que a família fica literalmente em segundo plano, pois o grupo é mais importante. Sabemos os momentos em que o assunto é “nosso”, e outras opiniões não são bem vindas, e os momentos em que o assunto pode ser “de todos”. Quando envolver as crianças, as esposas, amigos, outros familiares, e quando não envolver. Enfim, o meio termo, o equilíbrio nesse aspecto é também uma questão de sobrevivência e de sucesso do grupo.
Há o desejo de corrermos sempre, o maior número de vezes possível. Mas há também a exata noção de que financeiramente essa atitude não seria equilibrada. Além disso, tudo o que é comum, rotineiro, excessivo, tende a ter seu interesse diminuído no tempo. É necessário, mais uma vez, equilíbrio. Encontramos um determinado número de corridas e demais “eventos” no ano que certamente contribuem para o equilíbrio entre o correr e o não correr, o encontrar-se e o ausentar-se.
E, por falar em eventos, também aí o equilíbrio parece desempenhar seu papel. As corridas têm um misto de presença de pilotos e de familiares, que em rodízio ou de maneira sistemática, se fazem presentes. Já os happy-hours tornaram-se essencialmente masculinos. As reuniões esporádicas a convite de ora uns, ora outros, acabam por manter o contato entre determinados sub-grupos com interesses comuns. E a festa de final de ano é um grande evento de confraternização, onde todos os grupos e sub-grupos, parentes, amigos, familiares, conhecidos e curiosos se juntam. Mais uma vez, acontece o equilíbrio entre o “exclusivamente masculino” com outras modalidades de convivência, todas muito salutares para manter a oxigenação do grupo.
Na divisão de tarefas, acontece algo absolutamente notável em qualquer organização – todos fazem o que gostam, como querem, quando querem, sem obrigações escritas, mas todos assumindo naturalmente suas responsabilidades. Quase como uma organização auto-gerenciada, sem hierarquias formalmente definidas mas com lideranças por assunto de interesse. Lideranças movidas pela iniciativa, e pelo prazer de “fazer acontecer”. Um equilíbrio tão interessante e tão difícil de conseguir, que seria certamente invejado por quaisquer empresas modernas, nacionais ou estrangeiras!
Muitos não entenderam esse “equilíbrio”, e a necessidade de optar (afinal, a vida é feita de escolhas). Outras vezes, a necessidade de “abrir mão”. Seja de um compromisso familiar, ou de um interesse particular. Muitos não entenderam a necessidade de resignar-se com algo de que não gostou (nem tudo é, nem nunca será, perfeito!). Outros não perceberam que dar certa prioridade ao “grupo”, em detrimento a outras coisas, em determinados momentos, era importante. Outros, talvez a maioria dos que não permaneceram, sequer perceberam os valores, princípios, regras e demais filosofias não escritas, mas absolutamente expressas na identidade, no DNA deste “Clube”. E por isso não continuaram.
Todos os que hoje estão no grupo vão continuar “para sempre” ? O próprio grupo é eterno? Vai terminar nessa temporada ou vai ter continuidade com nossos filhos, netos e bisnetos? Vai perder a sua identidade, o seu DNA, e com isso vai se desfazer, ou vai mantê-la eternamente e perpetuar-se?
Naturalmente ninguém tem essa resposta. Mas eu diria que ninguém sequer precisa preocupar-se com isso. O que devemos, certamente, é nos esforçar para manter o que foi construído, pois pouquíssimas pessoas no mundo podem dizer que fazem parte de um grupo com essas características. É importante refletir sobre isso. Para valorizarmos cada momento, cada segundo e cada encontro. E, também, para darmos a nossa contribuição individual para fazer de cada um desses momentos um pequeno, mas importante, marco em nossas vidas.
Clube do Kart – um clube de momentos e lembranças que, estas sim, nos acompanharão eternamente!
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